Xico colocou-nos em sobressalto mais uma vez.
Pouco antes das 8 da manhã de ontem, meu sogro franqueou-lhe o portão para que, como habitualmente, fosse satisfazer as suas necessidades fisiológicas a um descampado próximo. Meio hesitante, por não ir acompanhado, algo renitente, lá seguiu o seu destino.
Ele ultimamente tem demonstrado alguma carência, presumivelmente por, dada a sua idade, depois de algum esforço, ficar meio coxo de uma das patas anteriores mas, sem juízo, muitas vezes excede as suas capacidades.
Assim voltou a suceder! Passaram-se as horas e, cerca da uma da tarde, ainda não lhe tínhamos posto a vista em cima.
Por tal razão, mais uma vez, pouco convicto, lá me meti no jipe na tentativa de o localizar. Digo pouco convicto porque, quando assim sucede, sei que tal se deve há existência de namorada em estado interessante e, mesmo que o encontre, jamais me dá mão, olvidando a nossa amizade e empatia.
Almoço em atraso, barriga a "dar horas" e nada!...
Na busca cruzámo-nos com o dono do Tori, o tal filhote do Xico, já aqui falado no blogue, que também dera por sua falta sensivelmente à mesma hora, adiantando que estava farto de o procurar...
Pensei para comigo "Não há vergonha. Pai e filho na mesma orgia!..."
Quando estava prestes a desistir e vir almoçar, eis que recebi uma chamada para o celular, a dar notícias do meu amigo. Sabem quem telefonou? Nem com um doce podem adivinhar!... A chamada veio da..... POLÍCIA!
Ao chegar à Esquadra atravessei silenciosamente o átrio para poder flagrar a sua postura mas, ao entrar na área de atendimento, Xico pressentiu-me não sei como e levantou-se imediatamente de junto do graduado de serviço, detrás do balcão, onde se encontrava deitado. Dirigiu-se-me contente, com a cauda a bater, porém com o olhar algo envergonhado, molhado, a coxear e cheio de carrapichos.
Pelos policiais foi dito que Xico chegou junto da porta da Esquadra, sentou-se virado para o interior e ficou a aguardar. Por sorte, um policial mais antigo reconheceu-o e abriu a porta envidraçada que lhe obstava a passagem, após o que entrou e, acarinhado, lá seguiu para o local onde o fui encontrar.
De regresso, meio corpo fora da janela, cabeça ao vento, orelhas quais asas a bater, lá veio o Xico sorridente, embora cansado e dorido, satisfeito com mais uma aventura que acabou bem para ele e para mim também.
A nossa moradia situa-se num bairro periférico, a cerca de 2,5km do centro da cidade, onde a Esquadra se encontra. O meu amigão, àquela hora, teve que atravessar artérias com trânsito intenso. Não sei se se colocou ou colocou terceiros em risco, porém nenhum humano me soube relatar como conseguiu fazer o trajecto.
Restou-me "perguntar-lhe" a ele mesmo, ao que "respondeu" ter encontrado o filhote que, consigo, acompanhou uma matilha atrás de uma "rapariga" da cidade. Que foi muito difícil. Sempre a subir, já coxo, molhado e cheio de carrapichos a tolherem-lhe os movimentos, não podendo de forma alguma acompanhar os seus pares.
Sozinho na cidade, com dificuldades em fazer a viagem de regresso...Eureka, vou para a Polícia e o meu dono que me vá buscar!...
Bom, tenho que contar um segredo, fui polícia por mais de três décadas, os últimos anos a prestar serviço no exacto local onde fui encontrar o Xico deitado e onde me visitou algumas vezes, acompanhado da dona. Porém estou desligado do serviço há alguns anos e ele há muito tempo que não entra naquele local.
É tudo. Xico não tem juízo, mas inteligente, lá isso é!...