Não consigo definir o meu estado de espírito!
Sucede que estou dividido por sensações diversas, algo opostas. De forma imponderada sinto um misto de pesar e bem-estar.
De forma concentrada, estou dividido entre uma alegria imensa e uma forte tristeza temperada de algum conforto e resignação.
Sucede que passei os últimos dias de forma angustiante. Minha mãe, senhora idosa de 80 anos completos, encontrava-se em estado terminal, com incapacidade motora e falência sucessiva dos seus órgãos vitais, em consequência da doença de Alzheimer, diagnosticada meses antes.
No dia 29, cerca das 17 horas, terminou o seu padecer. Notícia esperada, dado o estado moribumbo em que a deixámos na visita do dia anterior. Um turbilhão nos sentidos, cérebro a ferver, mas tenho que dizê-lo, sempre sobrava alguma paz e conforto. Minha mãe deixara de sofrer e nós também.
Ontem, 16H30, no auge do nosso sofrimento, em pleno cemitério e a meio do enterro, eis que, de Castelo Branco, a cerca de 150km de distância, chegou a notícia de que acabara de nascer o meu primeiro neto, o Dinis. Que tudo correra bem. Que se tratava de um menino forte e saudável e quem o dizia era a heroína Júlia, sua mãe.
Dinis veio ao mundo no exacto momento em que sua bisavó chegou ao seu destino final, o cemitério da terra que a vira nascer!
Fica o meu agradecimento à Júlia e ao meu filho César. A ela por o ter permitido e a ele por ter tomado a decisão de deixar a mãe do seu filho no hospital, já a aproximar-se o trabalho de parto, arriscando a viagem para poder estar no funeral da sua avó Fernanda que, sem dúvida alguma, embora sem o dizer, o tinha eleito seu neto favorito.
É este o assunto que está dividir os meus sentimentos e que quis partilhar convosco.
O que sinto, não sei sintetizar, mas o que é certo e racional é fazer-se a apologia da vida. Por isso a minha alegria tem que superiorizar-se à tristeza.
Partiu a minha mãe, ganhei o meu neto. Cumpriu-se a lei da vida!...
Viva o Dinis!