sábado, 6 de novembro de 2010

Carpa





Belo exemplar de carpa

Por via da crise instalada neste pobre país malgovernado, tenho reduzido drasticamente as saídas piscatórias para as barragens e albufeiras, que oneram, e de que maneira, o nosso cada vez mais reduzido orçamento familiar, por causa do consumo de combustível.

Como recurso, vou matando o vício aqui no Tejo, com pequenas fugas depois de almoço, onde arejamos o "capacete" por umas três a quatro horas, o que é razoável para a jornada.

Normalmente costumava pescar com uma cana bogueira, com aparelho sensível, com que conseguia todas as variedades existentes. Porém, desde que descobri as ténias nas abletes, embora as do Tejo pareçam não estar contaminadas, evito pescá-las, pelo que mudei para um apetrecho de cana e carreto, com 3 metros de comprimento, iscando com o próprio engodo vermelho com um pouco de PV1 colante uma fateixa média. Com este método, de que faço uso há anos em pesca de rio, costumo ter êxito com as fataças e eventualmente com ciprinídios grandes.

A fateixa acomoda-se no fundo e, em cima, como sinalizador, uma bóia de 2 a 3gr, que fará como que uma tremideira quando as fataças fossam o engodo, altura em que com uma curta mas vigorosa lacada se tenta a ferra do peixe. Por vezes a picada é evidente, o que nos dá maior prazer na captura.

Anteontem, depois do almoço, mais cedo que o habitual, acompanhado de meu sogro e do inseparável Xico, lá segui para o "buraco" do costume, próximo da Ponte Salgueiro Maia.

Inicialmente, as coisas não pareciam ir correr bem. Primeiro devido a um avião de acrobacias, cujo piloto se exercitava sobre a ponte e os cabos de alta-tensão, o que me parece um risco acrescido desnecessário para si e para terceiros, eu incluído. Depois porque se desferrou um peixe e o aparelho ficou preso, bem alto, numas silvas, do que resultou a sua perda total.
Cerca das 14 horas, após "mamar" suave, quando a bóia se deslocava lateralmente, para a esquerda, dei a lacada e senti a prisão do que me pareceu um pequeno exemplar. Porém, progressivamente, foi fazendo força e mais força... e mais força, com o carreto a ceder sempre mais fio, até que silenciou e tudo parou, com o fio a passar entre a ramagem de um salgueiro reclinado na água. Nem para lá, nem para cá, tudo preso!...
As carpas, entre outros peixes do Tejo, têm a sua crença de fuga, geralmente uma loca ou ramagens velhas inertes e submersas, onde embrulham o fio, resultando sermos obrigados a parti-lo, sem vislumbrarmos o adversário, o que nos deixa defraudados e especulativos quanto ao tamanho do "monstro" que nos escapou (geralmente do tamanho dos braços bem esticados), daí a nossa fama de mentirosos.

Como raposa velha e paciente, tenho, nestas circunstâncias, uma técnica muito especial, chamada inactividade total, que por vezes resulta. Será o próprio peixe a desembrulhar o fio, o que se veio a verificar ao cabo de cinco traumatizantes minutos.
Nova luta de outro tanto tempo e... ufa!... bela carpa dentro repichel (camaroeiro), logo ali a "pesei", avaliando-a em não menos de 3kg de peso, no Tejo o meu maior exemplar.

Concluímos a jornada com mais 3 fataças de 700/800gr cada, para além de outras tantas que me fugiram, duas delas com perda da baixada e respectivas bóias, já que o fio sai disparado, qual elástico, até se prender bem alto nas silvas ou salgueiros.

Já em casa, aferimos o peso da carpa que deu 3,200kg, a qual está entregue a um amigo para confeccionar uma "baita" sopa, que diz saber fazer aprimoradamente.

Quanto às fataças já ontem foram consumidas pelo grupo, cortadas em posta fina, "albardadas" em farinha de milho, fritas e bem regadas com vinho tinto, do novo, na adega do costume. Curiosamente, acordei bem disposto...