quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Nova aventura do Xico


Xico colocou-nos em sobressalto mais uma vez.


Pouco antes das 8 da manhã de ontem, meu sogro franqueou-lhe o portão para que, como habitualmente, fosse satisfazer as suas necessidades fisiológicas a um descampado próximo. Meio hesitante, por não ir acompanhado, algo renitente, lá seguiu o seu destino.

Ele ultimamente tem demonstrado alguma carência, presumivelmente por, dada a sua idade, depois de algum esforço, ficar meio coxo de uma das patas anteriores mas, sem juízo, muitas vezes excede as suas capacidades.
Assim voltou a suceder! Passaram-se as horas e, cerca da uma da tarde, ainda não lhe tínhamos posto a vista em cima.
Por tal razão, mais uma vez, pouco convicto, lá me meti no jipe na tentativa de o localizar. Digo pouco convicto porque, quando assim sucede, sei que tal se deve há existência de namorada em estado interessante e, mesmo que o encontre, jamais me dá mão, olvidando a nossa amizade e empatia.

Almoço em atraso, barriga a "dar horas" e nada!...

Na busca cruzámo-nos com o dono do Tori, o tal filhote do Xico, já aqui falado no blogue, que também dera por sua falta sensivelmente à mesma hora, adiantando que estava farto de o procurar...
Pensei para comigo "Não há vergonha. Pai e filho na mesma orgia!..."

Quando estava prestes a desistir e vir almoçar, eis que recebi uma chamada para o celular, a dar notícias do meu amigo. Sabem quem telefonou? Nem com um doce podem adivinhar!... A chamada veio da..... POLÍCIA!

Ao chegar à Esquadra atravessei silenciosamente o átrio para poder flagrar a sua postura mas, ao entrar na área de atendimento, Xico pressentiu-me não sei como e levantou-se imediatamente de junto do graduado de serviço, detrás do balcão, onde se encontrava deitado. Dirigiu-se-me contente, com a cauda a bater, porém com o olhar algo envergonhado, molhado, a coxear e cheio de carrapichos.

Pelos policiais foi dito que Xico chegou junto da porta da Esquadra, sentou-se virado para o interior e ficou a aguardar. Por sorte, um policial mais antigo reconheceu-o e abriu a porta envidraçada que lhe obstava a passagem, após o que entrou e, acarinhado, lá seguiu para o local onde o fui encontrar.

De regresso, meio corpo fora da janela, cabeça ao vento, orelhas quais asas a bater, lá veio o Xico sorridente, embora cansado e dorido, satisfeito com mais uma aventura que acabou bem para ele e para mim também.

A nossa moradia situa-se num bairro periférico, a cerca de 2,5km do centro da cidade, onde a Esquadra se encontra. O meu amigão, àquela hora, teve que atravessar artérias com trânsito intenso. Não sei se se colocou ou colocou terceiros em risco, porém nenhum humano me soube relatar como conseguiu fazer o trajecto.

Restou-me "perguntar-lhe" a ele mesmo, ao que "respondeu" ter encontrado o filhote que, consigo, acompanhou uma matilha atrás de uma "rapariga" da cidade. Que foi muito difícil. Sempre a subir, já coxo, molhado e cheio de carrapichos a tolherem-lhe os movimentos, não podendo de forma alguma acompanhar os seus pares.
Sozinho na cidade, com dificuldades em fazer a viagem de regresso...Eureka, vou para a Polícia e o meu dono que me vá buscar!...

Bom, tenho que contar um segredo, fui polícia por mais de três décadas, os últimos anos a prestar serviço no exacto local onde fui encontrar o Xico deitado e onde me visitou algumas vezes, acompanhado da dona. Porém estou desligado do serviço há alguns anos e ele há muito tempo que não entra naquele local.

É tudo. Xico não tem juízo, mas inteligente, lá isso é!...

domingo, 13 de setembro de 2009

Perdemos o nosso Rafael!...

Como as pessoas, também alguns animais nascem com uma má sina, acredito!

Rafael nasceu para uma vida curta, algo efémera. Como aqui foi contado, o pobre foi abandonado ainda mal abria os olhos e ainda sem condições para se poder alimentar por si mesmo.

Nós o recolhemos e acarinhámos. Foi tratado como um bebé pelas mulheres da casa, a biberão a horas justas e certas.

Ele cresceu saudável, sempre com uma pelagem impecável, brilhante. Olhos sempre limpos. Enfim, tudo indiciava irmos ter um felino bonito, qual lince em liberdade, ganho para, por fim, mal grado o seu começo, vir a ter uma boa e longa vida.

Ele cresceu, desenxameou, galgou muros, percorreu quintais e becos. Ganhou amigos da sua espécie, alguns bem mais velhos que o visitavam aqui entre os nossos muros, sempre que ludibriavam o Xico. Creio que não vinham apenas pela comida, mas sim para interagirem com Rafael, que era vivo e amigo do seu amigo.

Um dia, vindo não se sabe de onde, apareceu uma miniatura, qual cópia fiel do Rafa, a que, incluso, chamei de seu clone.
Rafael não tinha por hábito arranhar, mas gostava de morder, em jeito de brincadeira, como fazia connosco, muito especialmente quando encontrava uma perna desnudada e ele, nas suas brincadeiras com o "clone" abocanhava-o carinhosamente e era vê-los frequentemente ora no chão ora sobre a lenha, a rebolarem juntos.

Viemos a constatar que o "clone", que de certa forma procurámos adoptar, estava magro e não ingeria a comida que lhe ofereciamos, acabando por desaparecer, suspostamente morto algures.

Uns dias depois, num fim de tarde, notámos que o nosso Rafa, Raufe, Bebé, como carinhosamente o tratávamos, estava triste. Conceição, que o adorava, pensou em levá-lo de imediato ao veterinário, ideia que acabámos por descartar, já que os gatos são assim mesmo, têm as suas pequenas crises e estávamos mal habituados, que no dia seguinte já não seria nada...

Não foi assim, Raufe vomitou algo malcheiroso e não apresentava melhoras. Fizemos por ele o que nos foi possível, muito especialmente com acompanhamento e consultas ao veterinário, com toda a espécie de medicação, soro incluído, para tratamento de um suposto vírus, na óptica do técnico, transmitido pelo mais pequeno.
Não sou ninguém para desacreditar o veterinário, mas não posso descartar a ideia de envenenamento.

Acompanhá-mo-lo até ao seu último suspiro, com Xico por perto, também entristecido...

Com muita pena nossa, vimos ficá-lo imóvel, definitivamente morto, porém sempre bonito e bem nutrido, na sua pelagem parda, brilhante e impecávelmente limpa.

Rafael nasceu, de facto, para não ter muita sorte. Partiu quando a vida mais lhe sorria, como muitos humanos...

Conceição, qual mãe, chorou copiosamente!...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Lontra

Para que fique registada neste blogue, aqui fica uma pequena história de pesca de minha autoria, lida por Miguel Guilherme e Inês Fonseca Santos, na RDP-Antena 1 :